sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

''O morcego'' de Augusto dos Anjos

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

''Vou mandar levantar outra parede...''
- Digo.Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

domingo, 16 de janeiro de 2011