quarta-feira, 28 de março de 2012

O cheiro de chuva caindo no asfalto lembra o que para você?



Quente e seco
Orgânico, acima de vinte átomos de carbono
Toda chuva vem um dia
Exalar o cheiro do abandono

Mil tralhas no chão da vida
Asfalto, mas quem diria
Que um dia, sem pestanejar
Fostes o porão do meu aconchego, do meu lar

Memórias estraçalhadas
Como não lembrá-las
Se esses versos de piche
São amarras como em um fetiche

Ora francamente!
Ainda me vem esse cheiro de chuva
Que cai no asfalto quente
Que de água é repelente
Mas que não consegue repelir a minha insistente
Saudade

Com gosto de café na boca
Um cobertor  que caiba os dois
Yann tocava sem depressa
Como numa reza, eu decorava essa promessa

De viver ao lado teu
Diante do espírito da chuva, que encarnava o asfalto perfumado
Que um tanto desprezado, o lençol limpo sentia ciúme
Para quê? Para o meu corpo, depois são, ser exumado

Mas que maldita memória olfativa
O cheiro de chuva que se foi pelo ralo
A lágrima ameaça do olho cair
Quando passa o carro aspergindo a água da chuva no asfalto

Mentiras revividas
Ao passo que o passo vem a mim
Encardido de asfalto o sapato de carmim
Esquentando o coração valente do afago dessas despedidas

Não me vem mais a avó afetiva na cozinha
Com os grãos de feijão empurrados
Para dentro da boca  trinchada
Oh! Até essa recordação de mim foi tirada

Se me pedisse  um bom retorno
De sangue eu ia ao encontro teu
Sem sangue eu voltaria desse encontro
Do divino amor eu me converti ateu

Mas enquanto eu espero o pedido de reconciliamento
Já se enche de teias o meu sentimento
A boca pintada de batom vermelho
Proclama um discurso direto em frente ao espelho

Se me perguntastes ainda
O que me lembra o cheiro de chuva que cai no asfalto
Eu responderia, vagarosamente,  numa sina
Me lembra o estrondoso ruído do desalento

A paisagem árdua do sofrimento
A textura do falso encantamento
E o gosto amargo e lento
Do desamor por dentro  




sexta-feira, 9 de março de 2012

Amor volátil

É ter com quem ir
Mas ficar em  abstinência
Clamar eterna veemência
Por um efêmero possuir

Ficar quieto
Surdo, mudo
Aceitando exigências
Sem buscar sapiência

Pela cura do não saber
Da ilusão de não viver
Buscando
O que nunca vai se ter

Ora, francamente, não há escrúpulos
Em se amar
Ora, novamente, se é saudade
Que ele vai buscar

Mas o amor não se comporta
Não do tipo que é volátil
Chora, berra, se esgoela
Sem sequer um limite uniforme
Depois se vira e dorme

Esconderijo

 Dúvidas incessáveis, porém meu corpo apela por um ímpar. Não tento esconder, me deixo levar e caio em graças de amor, mesmo porque o meu esconderijo está a léguas dali.
 Me escondo onde todos possam me ver, com minha alma de escrita automática, sou aluna de vários módulos da inconstante presença. Não quero, mas o meu esconderijo sempre se dirigi a mim como um ser onipresente. Ainda não sei porque cargas d'água ainda não me mudei. Pensando bem, se o tivesse feito, precisaria[de fato] me esconder.