terça-feira, 19 de julho de 2016

old man

Estava numa ansiedade só, muita coisa a ser feita, uma cabeça frenética, um tempo escorrido, choro no banho e uma angustia que estava só no começo. Todo dia saia uma hora mais cedo de casa para tomar o ônibus, de cara amarrada, desviando de homens ruins que passam sem rumo. Até que chega, enfim, ao seu destino de partida. E se depara com uma cena que lhe chama atenção. Um senhor, de cabelos branquinhos, joelhos descobertos e um jornal na mão, abrindo sua quitanda no pingo do sol quente, logo ali na frente.

Suas mãozinhas hábeis, tateando os ferrolhos até que, num gesto preguiçoso, abre uma portinhola. A outra se abre por consequência da primeira, ou por obediência ao velho. Ele puxa cuidadosamente uma cadeira, abre o jornal e procura palavras vagas que lhes dê um sabor de novidade.

Aquela cena foi um baque para mim. Sentada defronte, muito quieta, assistindo com olhinhos pequenos para não chamar atenção, fui invadida assim, sem mais nem menos, por um calor meio doce, meio áspero, de gente que vive devagar e escolhe com cuidado o que vai comer. Uma ideia de nostalgia e a certeza que a calmaria arremata o caos do coração em turbilhão.