sábado, 21 de outubro de 2017

O maldito pássaro


Neste instante houve um pássaro
Um desses que revoa, rebate, retoma e recomeça
Houve porque ainda há, não porque estive, mas é.
Sente a ferida de uma casualidade imposta
E diante desta, curva-se à majestade
De poder ser arbitrário e ainda assim, sentido.
Essa nociva criatura que esperneia sem fazer ruído
Espanta males com falso desdém
E despenca em bocas que não lhe cabem por ser pequeno demais
É um ser nocivo para si mesmo
Frenético
Suscetível
Arrancado de galhos por um simples sopro divino
Uma chacota social, esse maldito pássaro.
Já foi negro, foi azul, já até cantou deformidades.
É altivo, com suas penas penteadas e seu bico em singela curva
De uma expressividade inacessível, porém genuína
Não existe outro como o pássaro
Tanto que querem lhe engaiolar
Tanto que querem guardar seu piu
Mas o danado sempre tem um jeito
De entrar no quarto de quem não o estima
E ficar ali, miúdo, quietinho, esperando ser descoberto
Que é a hora que lhe enxotam janela afora

E ele voa livre, de saudade do avesso. 



Ilustração: Whimsical Drawing by OkArt 


Um comentário:

  1. Belas palavras. A liberdade é um direito que precisa ser conquistado todos os dias - pois sempre há o que querem tirá-la.

    ResponderExcluir