Neste
instante houve um pássaro
Um
desses que revoa, rebate, retoma e recomeça
Houve
porque ainda há, não porque estive, mas é.
Sente
a ferida de uma casualidade imposta
E
diante desta, curva-se à majestade
De
poder ser arbitrário e ainda assim, sentido.
Essa
nociva criatura que esperneia sem fazer ruído
Espanta
males com falso desdém
E
despenca em bocas que não lhe cabem por ser pequeno demais
É um
ser nocivo para si mesmo
Frenético
Suscetível
Arrancado
de galhos por um simples sopro divino
Uma
chacota social, esse maldito pássaro.
Já
foi negro, foi azul, já até cantou deformidades.
É
altivo, com suas penas penteadas e seu bico em singela curva
De
uma expressividade inacessível, porém genuína
Não
existe outro como o pássaro
Tanto
que querem lhe engaiolar
Tanto
que querem guardar seu piu
Mas
o danado sempre tem um jeito
De
entrar no quarto de quem não o estima
E ficar ali, miúdo, quietinho, esperando ser descoberto
Que
é a hora que lhe enxotam janela afora
E
ele voa livre, de saudade do avesso.
Ilustração: Whimsical Drawing by OkArt
Belas palavras. A liberdade é um direito que precisa ser conquistado todos os dias - pois sempre há o que querem tirá-la.
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